sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Empoderar-se

Empoderar-se é solitário
Dolorido, muitas vezes
A gente descobre o tanto que deixou a jangada seguir 
Atribuindo ao outro o fruto da vida.
Empoderar-se é escolher um novo caminho
com as 7 camadas rompidas ou o períneo mutilado.
Descobrir e honrar o movimento sagrado
num novo parto, no parto do outro.

Empoderar-se é destruir castelos de areia

Com ondas enormes de consciência
É tapar os ouvidos para a palpitaria
Fechar os olhos para aquilo que já se conhece
E ouvir o silêncio amorfo da esquecida voz da intuição.

Empoderar-se é assumir o poder interior

Abrir a vela do barco e reconhecer que o vento 
Sempre sopra para direção certa.
É ser o diretor das escolhas
E protagonista do estrelato
Nunca coadjuvane da história.

Empoderar-se é saber onde se quer chegar

E descobrir meios como fazê-lo
Mesmo e principalmente quando a maré puxa para lado oposto.

Empoderar-se é saber que cada passo é uma grande viagem

Crer em si, em seu corpo perfeito, nos processos naturais
e fazer do nascer e maternar a grande revolução humana.
(Kalu Brum)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Cuidando da Gestação 2...

Então, depois da imensa busca por um(a) obstetra que nos ajude a realizar o parto normal e minimamente humanizado, encontramos Drª France. Nossa primeira consulta foi no dia 13 de janeiro e a primeira impressão foi boa. Ao contrário dos demais médicos, encontramos uma profissional que conversa e dialoga de uma forma bastante motivadora, que quis ouvir nossas escolhas e preocupações, não quis simplesmente impor sua "forma de encarar a vida" e o parto. 
Esse primeiro contato serviu para trocarmos impressões e abrir esse primeiro contato. Ela de cara já me perguntou se eu gostaria de fazer o Parto Natural, logo sinalizei que esse foi meu desejo desde sempre e que venho passando de médico em médico que só querem saber de cesariana.
Ficamos muito felizes, pois para quem só ouvia falar em cirurgia, ouvir uma médica falar em Parto Natural soou como a melhor música que já havíamos escutado!!!! Naquele momento tínhamos mais uma aliada para trazer nossa filhinha da forma mais saudável e humanizada ao mundo!!!
Na segunda consulta, que foi dia 03 de fevereiro, a certeza de que ela realmente é uma aliada se confirmou, pois trocamos em miúdos o que de fato é um Parto Natural para ela e as concepções foram bem próximas das nossas, apesar de que ainda temos que afinar mais alguns detalhes até o grande dia da chegada de Rosa. 
Os pontos que chegamos a um acordo satisfatório foram: não realizar episiotomia de rotina, não indução do trabalho de parto com ocitocina, espera o início do trabalho de parto (ao invés de dizer que bebê tem hora marcada e que tenho que me internar sem sinal nenhum de TP, só porque existe uma data estimada), presença garantida do papai durante todo o processo, contato imediato da mamãe com a bebê assim que ela nascer, alojamento conjunto da mamãe e da bebê (nada de berçário) e apoio o fato de eu ter uma doula pra me acompanhar.
Para nós, o ponto marcante da Drª. France é que ela nunca se colocou como a "dona da verdade", como um "ser superior", ela compreende que esse momento é mais nosso do que dela e que o seu papel é auxiliar no que for necessário durante o trabalho de parto e nos orientar de acordo com as nossas escolhas e necessidades. 
Por isso que escuta nossos desejos e faz com que fiquemos à vontade para questionar se determinada conduta ou intervenção é realmente necessária, e assim construirmos esse caminho até chegar ao nascimento de nossa Rosa. 
Infelizmente a maioria das pessoas não têm a oportunidade de escolher de verdade a forma que querem trazer seus filhos ao mundo, dentre inúmeras outras coisas, pois a realidade é de exclusão e de desigualdade. Vocês perceberam que não foi fácil esse caminho para nós e demoramos 29 semanas de gestação para achar uma médica que nos respeitasse e tudo o mais. 
Pois é, muitas mulheres não têm sequer acesso à informação do que é o melhor para sua saúde e de seus filhos, pois lhes é negado o direito a essas informações, sendo que sem informação ficamos vulneráveis e as escolhas são feitas pelos outros, nesse caso pelos médicos, que se vestem de seres poderosos e salvadores, fazendo com que acreditemos que sua opinião é inquestionável e quase uma verdade absoluta. 
Convoco todas as mulheres a se apoderarem de seus corpos, conhecendo de perto do que somos capazes, desde a concepção até a concretização da maternidade, na luta por direitos, sendo que ser mãe é um direito. 
Digo também que nenhuma escolha é melhor que a outra, mas o melhor é que as escolhas sejam feitas exatamente por nós.

Porque nenhuma mulher deve ter seu direito de ser mão negado, mas também nenhuma mulher é obrigada a ser mãe. 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

“Eu fiz o parto do meu filho, não o médico”

Pessoal, resolvi presenteá-los com essa maravilhosa matéria sobre empoderamento feminino no parto, traz um ponto de vista que defendo com todas as vírgulas. A luta para ser mãe começa muito antes do nascimento do bebê. O texto é extenso, mas vale a pena parar e refletir.

Matéria de Eliane Brum


By Amanda Greavette
Sempre quis entender por que uma mulher prefere passar por uma cirurgia que exige um corte transversal de 10 a 15 centímetros e atravessa sete camadas de tecido do que ajudar seu filho a nascer da forma mais natural. Segundo a Organização Mundial da Saúde, apenas 15% dos partos têm indicação de cesariana. Mas, no Brasil, oito de cada 10 partos na rede privada são cirúrgicos. E, assim, os bebês brasileiros cujas mães têm plano de saúde nascem em horário comercial e o que era natural virou exceção. Por quê? E para o benefício de quem? 

Já ouvi dezenas de vezes a justificativa de que a cesariana “é mais prática, cômoda e indolor”. Prática, cômoda e indolor para quem? Talvez seja mais prática, cômoda e indolor para o médico, que não vai ser acordado no meio da noite nem ter de desmarcar compromissos e consultas para acompanhar um processo natural durante horas. Mas, para a mulher, os fatos provam que não. Ainda que o parto natural leve mais tempo, assim que a criança nasce não há mais dor. Já a recuperação da cesariana pode levar semanas e até meses, quando tudo dá certo. Sem contar os riscos inerentes a uma cirurgia de grande porte. Há poucos dias, ao visitar uma amiga que acabou de ter seu segundo filho por cesariana, ela me disse: “A dor que senti ao tentar levantar depois da cesárea foi muito maior do que todas as dores do parto natural do meu primeiro filho. Não entendo como alguém pode achar que isso é melhor”. 

Também já perguntei a alguns obstetras por que fazem tantas cesarianas. E a resposta de todos foi: “Porque nenhuma das minhas pacientes quer ter parto natural”. Será? Sempre desconfiei que parte dos médicos não sabe fazer parto natural. E, além de ser mais prático para eles, escolhem a cesariana porque também têm medo. Em uma reportagem sobre mortalidade materna publicada na Época em 2008, o obstetra Nelson Sass, professor da USP, afirmava exatamente isso: “Os estudantes de Medicina das melhores faculdades quase não têm contato com parto natural. É uma deformação das escolas. Como os casos mais complicados são encaminhados aos hospitais universitários e resolvidos com cesáreas, os alunos não treinam o parto natural”. 

Este obstetra, que não foi treinado para o mais fácil e mais natural, vai convencer aquela gestante que, no caso dela, uma cesariana é a melhor opção. Quando uma mulher está com um filho na barriga e um médico diz que é necessário cortá-la para que ele saia, dificilmente ela vai desafiar a autoridade do médico e contestá-lo. Se o médico diz que é mais seguro, como ela vai discutir e correr o risco de comprometer a vida do seu filho? Nesses casos, mesmo mães que desejaram e se prepararam para um parto natural recuam diante da autoridade daquele que sabe. Mas, às vezes, aquele que sabe só tem medo. Ou, pior, tem um compromisso social em seguida ou apenas quer ganhar mais. 

Quando uma mulher engravida e a barriga começa a crescer, dá medo, às vezes até pânico, saber que aquele bebê que está dentro dela vai ter de sair. E é ela quem vai ajudá-lo nisso. E que esse processo inclui dor. É natural ter medo. Isso não significa que essa mulher não possa lidar com esse medo e com todas as fantasias a respeito desse momento e, mesmo assim, viver o que tem para viver. A maior fantasia – e a que mais atrapalha todas as mulheres – é justamente a ideia de que a maternidade é sagrada e só envolve bons sentimentos. Então, para ser uma boa mãe, supostamente uma mulher teria de achar tudo lindo e elevado. 

Poucas crenças são mais perniciosas para as mulheres – e depois para os seus filhos – do que o mito da maternidade feliz. A escritora francesa Colette Audry disse uma frase genial sobre o que é um filho: “Uma nova pessoa que entrou na sua casa sem vir de fora”. Como não ter medo e sentimentos conflitantes a respeito de algo assim? Engravidar e parir dá medo mesmo. E uma mulher não vai amar menos aquele bebê por sentir pavor, raiva e sentimentos supostamente menos nobres – ou supostamente proibidos. Ao contrário. Ela pode ser uma pessoa pior e uma mãe pior se sufocar esses sentimentos em vez de aceitá-los e lidar com eles. O que também implica lidar com o medo da dor do parto e da responsabilidade de ajudar o filho a nascer. É claro que auxilia bastante encontrar um obstetra responsável que converse com ela sobre seus sentimentos – em vez de abrir a agenda para marcar a cesariana. 

É por medo de viver e porque ninguém as ajuda a lidar com seus piores pesadelos que muitas mulheres preferem não sentir – literalmente – um dos momentos imperdíveis da vida que é o parto de um filho. Acredito que a saída para esse medo não é ser anestesiada e cortada em data previamente marcada. E, principalmente, sem necessidade. Como me disse uma grávida um dia: “Prefiro a cesariana porque aí não tenho de passar por isso. Eu fico ali, sem sentir nada, e de repente meu filho já está do lado de fora”. Essa mulher nunca soube o que perdeu, porque perdeu. 

Hoje há um movimento forte em defesa do parto natural e há crianças nascendo em salas humanizadas de hospitais e mesmo dentro de casa nas grandes cidades, como São Paulo, enquanto lá fora o trânsito para e os carros buzinam. Existem grupos semanais onde as mulheres e também os homens podem falar abertamente sobre todos os medos e trocar experiências sobre parto e amamentação. E poder falar sobre isso e dizer que eventualmente está apavorada faz bem para todo mundo e também para o bebê que vai ter uma mãe que consegue falar de seus sentimentos. E falar do que sentimos e do que não sentimos, por pior que nos pareça sentir o que não queríamos sentir – ou não sentir o que achamos que deveríamos sentir –, nos ajuda a amar melhor. 

Algumas ressalvas, porém. A luta pela volta do parto natural é um bom combate. Mas é preciso não cair no outro extremo e virar xiita, já que dogmas não fazem bem à vida. Às vezes percebo com pena esse traço em alguns movimentos que poderiam ser melhores se deixassem a soberba de lado. A cesariana é uma ótima saída nos casos em que é indicada e pode salvar a vida da mãe e do bebê. O problema não é optar por ela quando claramente é a melhor alternativa diante de uma complicação – e sim fazer a cirurgia sem necessidade, um comportamento epidêmico no Brasil. 

Nenhuma mulher é menos mãe ou menos mulher porque não conseguiu ter um parto natural. Assim como nenhuma mulher é menos mulher porque decidiu que não quer ser mãe. Já testemunhei mães orgulhosas de seu parto natural esmagar com sua suposta superioridade uma outra que precisou de cesariana. Este é um comportamento lamentável, quando não ridículo. Nesses casos, além de ter sido submetida a uma cirurgia e estar cheia de dores e pontos, a mulher é punida porque não foi uma superfêmea. Como se ter de fazer uma cesariana fosse uma nova modalidade de fracasso. Superfêmeas, assim como supermães, para o bem da humanidade é melhor que não existam. As mulheres mais bacanas e as que possivelmente serão melhores mães são as que assumem seus medos e não punem o medo das outras. E compreendem que na vida, assim como no parto, a gente tenta fazer o melhor possível. E o melhor possível tem de ser o suficiente. 

Para nos ajudar a pensar sobre tudo isso, entrevistei uma amiga que teve seu primeiro filho há uns poucos meses, perto dos 40 anos. Eu a escolhi porque ela desejou muito um parto natural. E se preparou muito para o nascimento do seu filho. E conseguiu o seu parto. Mas, para isso, passou por um tremendo estresse desnecessário em seu embate com a cultura predominante da cesariana e o medo de que os profissionais escolhessem por ela ao longo do trabalho de parto.

Quando fui visitá-la no hospital, no dia seguinte ao nascimento do bebê, ela tinha necessidade de contar sobre o pavor vivido não por causa das dores do parto, mas pelo medo de que roubassem dela esse momento. Seu bebê era saudável, ela ajudava a dar nele o primeiro banho e amamentava-o sem nenhum incômodo. Mas o embate com a equipe de saúde a tinha marcado. E teria sido melhor se ela tivesse a certeza de que sua decisão seria respeitada – e uma cesariana só seria feita se realmente houvesse necessidade. 

Há cerca de um ano ela deu outra entrevista para esta coluna, sobre seu desejo e suas dificuldades de engravidar, e os mitos de fertilidade que atrapalham a vida das mulheres. Agora, ela nos conta o capítulo seguinte. A experiência de cada mulher é única. Esta é a da minha amiga. Nem certa nem errada, nem melhor nem pior, apenas a dela. 

Veja a entrevista completa em http://migre.me/3OKRh